BRINQUEDO



A bola de meia velha
que meus pés não gastaram,
não gastam, não gastarão,
passa em meus dedos infantis
como um sonho-terremoto.
Sem controle
treme o corpo que apanha da menina.
Tão lambidinha ela, tão branquinha,
pele e roupa
e obscuro olho de rezar.
Minha dona é pérfida menina.
Me penteia
arrancando fio a fio
grossas somas de caracóis negros.
Depois,
laço no cabelo, sim.
Sapato!
Nem meia
Boneca escrava é sem luxo.