VERBO


Falar é confirmar o limiar do existir
E não existir
Inventando
Re-inventando
Codificando o inexplicável
Falar, falar e sentir
Não falar, sentir e não poder falar
Sentir por falar o que não quer
Não querer e sentir mais do que as palavras
Mais que expressão verbal
Mais que língua esfregada na boca,
no céu, no dente,
No carrossel úmido que vem e vai do intestino
do destino-mulher, do rumo incerto
Do feto, Do veto, Do proibir
Eu me proíbo e me sucumbo
E seco dentro das roupas, das louças, do bordado, do novelo de lã
Eu, lã proibida de tecer aconchegos
Eu me nego
Eu me negra
Eu, incerteza dentro e fora da cabeça
No espaço sideral, na Via-Láctea, eu me nego
Até quando esse não-querer, e querendo sem saber, me desaprendo
Só assim estarei livre do meu desassossego.
Quero ser renda, bordada com fios de alegria.